Tratamento farmacológico das convulsões

PorBola Adamolekun, MD, University of Tennessee Health Science Center
Revisado/Corrigido: mar 2022
Visão Educação para o paciente

Nenhum anticonvulsivante controla sozinho todos os tipos de crise epiléptica; pacientes diferentes requerem fármacos distintos. Algumas vezes, os pacientes necessitam de vários fármacos. (Ver também the practice guideline for the treatment of refractory epilepsy from the American Academy of Neurology and the American Epilepsy Society [1, 2].)

Raramente, um anticonvulsivante eficaz para um dos tipos de convulsão pode agravar outro tipo de convulsão.

Referências gerais

  1. 1. Kanner AM, Ashman E, Gloss D, et al: Practice guideline update: Efficacy and tolerability of the new antiepileptic drugs I: Treatment of new-onset epilepsy. Report of the Guideline Development, Dissemination, and Implementation Subcommittee of the American Academy of Neurology and the American Epilepsy Society. Neurology 91 (2):74–81, 2018. doi: 10.1212/WNL.0000000000005755 Epub 2018 Jun 13.

  2. 2. Kanner AM, Ashman E, Gloss D, et al: Practice guideline update summary: Efficacy and tolerability of the new antiepileptic drugs II: Treatment-resistant epilepsy. Epilepsy Curr 18 (4):269–278, 2018. doi: 10.5698/1535-7597.18.4.269

Fundamentos do tratamento de longo prazo

Há alguns princípios gerais para o uso dos anticonvulsivantes:

  • Um único fármaco, geralmente a primeiro ou segundo experimentado, controla as crises epilépticas em cerca de 60% dos pacientes.

  • Se as crises forem de difícil controle desde o início (em 30 a 40% dos pacientes), 2 fármacos podem, por fim, ser necessários.

  • Se as crises forem intratáveis (refratárias após um período adequado com 2 fármacos), os pacientes devem ser encaminhados a um centro de epilepsia para determinar se são candidatos à cirurgia.

Alguns fármacos (p. ex., valproato, fenitoína), administradas IV ou por via oral, atingem os níveis terapêuticos muito rapidamente. Outras (p. ex., lamotrigina, topiramato) devem ser iniciadas em doses relativamente baixas e aumentadas gradualmente durante várias semanas até chegar à dose terapêutica padrão, com base na massa corporal magra do paciente. A dose deve ser adaptada à tolerância do paciente ao fármaco. Alguns pacientes apresentam sintomas de toxicidade com a fármaco, mesmo em níveis baixos; outros toleram doses elevadas sem sintomas. Se as crises continuarem, a dose diária é aumentada em pequenos incrementos.

A dose apropriada é a menor dose que cessa as crises e tem menos efeitos adversos, independentemernte do nível sérico do fármaco. As concentrações sanguíneas dos fármacos são apenas diretrizes. Quando a resposta ao fármaco é conhecida, a evolução clínica é mais útil do que medir as níveis séricos.

Dicas e conselhos

  • Determinar a dose apropriada do medicamento por meio de critérios clínicos (a menor dose que interrompe as crises e tem menos efeitos adversos), independentemente dos níveis séricos do.

Quando ocorre toxicidade antes que as crises sejam controladas, a dose é reduzida até uma dose “pré-tóxica”. Em seguida, outro anticonvulsivante é gradualmente acrescentado até que as crises sejam controladas. Os pacientes devem ser cuidadosamente monitorados, pois as interações medicamentosas podem interferir na velocidade de degradação metabólica de qualquer uma das 2 fármacos. O fármaco inicial é então reduzido lentamente até ser completamente interrompida.

O uso de múltiplos fármacos deve ser evitado, se possível, porque a incidência de efeitos adversos, baixa adesão e interações medicamentosas aumenta significativamente. O acréscimo de um segundo fármaco ajuda cerca de 10% dos pacientes, mas a incidência dos efeitos adversos mais do que duplica. O nível sérico de muitos anticonvulsivantes é alterado por outros fármacos e vice-versa. Os médicos devem estar cientes de todas as interações medicamentosas potenciais fármaco antes de prescrever um novo.

Uma vez controladas as crises, a administração do fármaco deve continuar sem interrupção até que os pacientes não apresentem mais crises por, pelo menos, 2 anos. Nesse momento, deve-se considerar a possibilidade de interromper a administração do fármaco. A maioria dos anticonvulsivantes pode ser reduzida em 10% a cada 2 semanas.

A recidiva é mais comum em pacientes que apresentam os seguintes fatores:

  • Distúrbio epiléptico desde a infância

  • Necessitam de > 1 fármaco para permanecer livres de crises

  • História de crises ao tomar anticonvulsivantes

  • Crises mioclônicas ou de início focal

  • Encefalopatia estática subjacente (não progressiva)

  • Eletroencefalograma (EEG) anormal no último ano

  • Lesões estruturais (vistas em exames de imagem)

Entre os pacientes que apresentam recidiva, cerca de 60% apresentam-na no período de 1 ano e 80% em até 2 anos. Deve-se tratar indefinidamente os pacientes com recidiva quando não estão tomando anticonvulsivantes.

Anticonvulsivante de escolha para tratamento prolongado

Os fármacos de escolha variam de acordo com o tipo de crise (ver tabela Escolha farmacológica nas crises). Para informações mais detalhadas sobre cada fármaco, ver Anticonvulsivantes específicos.

Tradicionalmente, fármacos costumavam ser separados em grupos mais antigos e mais recentes com base em quando eles se tornavam disponíveis. No entanto, alguns dos assim chamados fármacos mais recentes estão disponíveis há muitos anos.

Anticonvulsivantes de amplo espectro (eficazes para crises de início focal e vários tipos de crises generalizadas) são

  • Lamotrigina

  • Levetiracetam

  • Topiramato

  • Valproato

  • Zonisamida

Para crises de início focal e as crises tônico-clônicas de início generalizado, os anticonvulsivantes mais recentes (p. ex., clobazam, clonazepam, felbamato, lacosamida, lamotrigina, levetiracetam, oxcarbazepina, pregabalina, tiagabina, topiramato e zonisamida) não são mais eficazes do que o fármacos consagrados. Entretanto, os fármacos mais recentes tendem a ter menos efeitos adversos e serem mais bem tolerados.

Espasmos epilépticos (anteriormente, infantis), crises atônicas e crises mioclônicas são difíceis de tratar. O valproato ou vigabatrina é preferido, seguido pelo clonazepam. Para espasmos epilépticos, corticoides por 8 a 10 semanas costumam ser eficazes. O regime ideal apresenta controvérsias. Podem ser utilizadas 20 a 60 unidades de ACTH (adrenocorticotropic hormone) IM uma vez ao dia. Uma dieta cetogênica (com nível muito alto de gordura que induz à cetose) pode ajudar, mas sua manutenção é difícil.

Para epilepsia mioclônica juvenil, em geral, recomenda-se o tratamento por toda a vida com valproato ou outro anticonvulsivante. Carbamazepina, oxcarbazepina ou gabapentina podem exacerbar as crises. Pode-se utilizar lamotrigina como monoterapia de segunda linha (p. ex., para mulheres em idade fértil) ou terapia adjuntiva para epilepsia mioclônica juvenil; no entanto, esse fármaco pode agravar as crises mioclônicas em alguns pacientes com epilepsia mioclônica juvenil.

Anticonvulsivantes não são recomendados para convulsões febris, a não ser que a criança tenha uma crise epiléptica subsequente, na ausência de enfermidade febril. No passado, muitos médicos administravam fenobarbital e outros anticonvulsivantes para crianças com crises febris complicadas a fim de impedir o desenvolvimento de convulsões afebris, mas esse tratamento não parece eficaz e o uso prolongado de fenobarbital compromete a capacidade de aprendizagem.

Para crises associadas à abstinência alcoólica, não são recomendados anticonvulsivantes. Em vez disso, o tratamento da síndrome de abstinência tende a evitar as crises. O tratamento costuma ser feito com benzodiazepinas.

Tabela

Efeitos adversos

Os diferentes efeitos adversos dos anticonvulsivantes podem influenciar a escolha do fármaco para cada paciente. Por exemplo, anticonvulsivantes que causam ganho de peso (p. ex., valproato) podem não ser a melhor opção para um paciente com excesso de peso, e o topiramato ou a zonisamida podem não ser adequado para pacientes com história de nefrolitíase.

Alguns efeitos adversos dos anticonvulsivantes podem ser minimizados aumentando a dose gradualmente.

Em geral, os anticonvulsivantes mais recentes têm vantagens como melhor tolerabilidade, menos sedação e menos interações medicamentosas.

Todos os anticonvulsivantes podem causar exantema alérgico escarlatiniforme ou morbiliforme.

Alguns tipos de crise podem ser agravadas pelos anticonvulsivantes. Por exemplo, a pregabalina e lamotrigina podem agravar convulsões mioclônicas; carbamazepina pode piorar convulsões de ausência, mioclônicas e atônicas.

Outros efeitos adversos variam de acordo com o fármaco (ver Antiepilépticos específicos).

Uso de anticonvulsivantes durante a gestação

Antiepilépticos estão associados a maior risco de teratogenicidade.

A síndrome fetal por uso de anticonvulsivantes (fendas labial e palatina, defeitos cardíacos, microcefalia, retardo do crescimento, atraso no desenvolvimento, anomalias de face, hipoplasia dos membros ou dos dedos) ocorre em 4% dos filhos de mulheres que tomaram anticonvulsivantes durante a gestação.

Mesmo assim, como as crises generalizadas não controladas durante a gestação podem levar à lesão e morte fetais, a manutenção do tratamento com os anticonvulsivantes costuma ser recomendada. Deve-se informar às mulheres sobre o risco dos anticonvulsivantes para o feto, e esse risco deve ser colocado em perspectiva: o álcool é mais tóxico para o desenvolvimento fetal do que qualquer anticonvulsivante.

Muitos anticonvulsivantes diminuem os níveis séricos de folato e B12; suplementos vitamínicos orais podem prevenir esse efeito. O consumo de suplementos de folato antes da concepção ajuda a reduzir o risco de defeitos do tubo neural e deve ser recomendado a todas as mulheres em idade fértil e que tomam anticonvulsivantes.

O risco de teratogenicidade é menor com monoterapia e varia de acordo com o fármaco; nenhum é completamente seguro durante a gestação. O risco com carbamazepina, fenitoína e valproato é relativamente alto; há evidências de que causem malformações congênitas em humanos (ver tabela Segurança de medicamentos selecionados na gestação). Os riscos de defeitos do tubo neural de certa forma são maiores com valproato do que com os anticonvulsivantes comumente utilizados. O risco com algumas dos fármacos mais recentes (p. ex., lamotrigina) parece ser menor.

Tabela

Informações adicionais

O recurso em inglês a seguir pode ser útil. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.

  1. 1. Kanner AM, Ashman E, Gloss D, et al: Practice guideline update: Efficacy and tolerability of the new antiepileptic drugs I: Treatment of new-onset epilepsy. Report of the Guideline Development, Dissemination, and Implementation Subcommittee of the American Academy of Neurology and the American Epilepsy Society.

  2. 2. Kanner AM, Ashman E, Gloss D, et al: Practice guideline update summary: Efficacy and tolerability of the new antiepileptic drugs II: Treatment-resistant epilepsy.

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